Sobre o tema de TCC

Quando em 2020, no 6º semestre, precisei criar o pré-projeto de TCC para a disciplina de “Metodologia da Pesquisa Científica em Ambientes Acadêmicos”, ministrada pelo Prof. José Salvador Faro, não tinha uma visão clara do tema que eu queria fazer. Eu sabia que precisava ter uma veia política, de direitos humanos e principalmente de feminismo, mas precisava ser algo que fugisse das pautas convencionais da mídia e do jornalismo. De primeira, pensei em falar sobre a vida das mulheres em situação de rua, mas uma colega já tinha pensado nesse tema, então pensei em algo mais específico. Assim, cheguei à questão da higiene pessoal, mais precisamente, sobre a menstruação.
Fiz pesquisas e encontrei pouquíssimas matérias e recursos sobre o assunto, porém, encontrei o termo “pobreza menstrual”, que se define como a condição de pessoas que menstruam e estão em situação de vulnerabilidade econômica e social e não têm acesso a higiene, a educação sobre menstruação e a saneamento básico. Ou seja, concluí que não é um problema que se resume apenas à mulheres em situação de rua, mas a qualquer pessoa que menstrua e está em situação de vulnerabilidade: estudantes e profissionais de baixa renda, LGBTQIA+, presidiárias, entre outros. Decidi não fazer um recorte específico, mas sim, explicar o conceito do termo, suas consequências para a saúde das pessoas que menstruam e os perfis dessas pessoas, uma vez que até então não havia uma grande atenção sob o tema e tampouco projetos acadêmicos.
Em minha situação de privilégio e de pessoa que menstrua, nunca parei para pensar em como as pessoas lidavam com sua menstruação sem ter acesso à itens de higiene básica e a saneamento, algo que a Constituição garante como direito (Art. 5º e 6º) e que para mim, pessoalmente, sempre foi muito acessível. Assim, precisei fazer desse o meu tema, uma vez que tinha a linha feminista que eu tanto prezava e abordava o lado do jornalismo investigativo e de direitos humanos que eu sempre tive interesse.
Ao iniciar o desenvolvimento do TCC, já existiam alguns projetos de lei pelo Brasil com o objetivo de fornecer de forma gratuita absorventes e demais itens nos postos de saúde, escolas e presídios. No entanto, em maio deste ano, com campanhas de empresas de absorvente pelo mês da Dignidade Menstrual e com a reportagem do Fantástico, da TV Globo, o tema ganhou muita atenção, com mais campanhas sobre o assunto, e principalmente, mais surgimento de projetos de lei.
Uma das principais conquistas ocorreu durante o desenvolvimento deste TCC. Em junho deste ano, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) já havia instituído o Programa Dignidade Íntima, que investiu de mais de R$ 30 milhões em 2021 para compra de itens de higiene menstrual, com o objetivo de beneficiar principalmente estudantes em situação de vulnerabilidade econômica e social.
A segunda conquista, e definitivamente a mais importante, foi em setembro deste ano. O Senado Federal aprovou o projeto, relatado pela senadora Zenaide Maia (Pros-RN), que prevê a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias. Em outubro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou o projeto, criando o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, mas vetou o artigo 1º, que previa a distribuição gratuita de absorventes higiênicos, e o artigo 3º, que estabelecia a lista de beneficiárias:
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Estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública de ensino;
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Mulheres em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social extrema;
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Mulheres apreendidas e presidiárias, recolhidas em unidades do sistema penal;
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Mulheres internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa.
Ele alegou que o projeto não previu fonte de custeio para essas medidas, porém, o texto havia previsto que o dinheiro viria dos recursos destinados pela União ao Sistema Único de Saúde (SUS) – e, no caso das presidiárias, do Fundo Penitenciário Nacional. Em relação ao SUS, o presidente argumentou que absorventes não consta da lista de medicamentos considerados essenciais e que, ao estipular beneficiárias específicas, o projeto não atendia ao princípio de universalidade do sistema único de saúde. Até a publicação deste TCC, o andamento do projeto não teve atualizações.
Esses e outros projetos de lei foram surgindo ao longo da edição do documentário, o que confirmou ainda mais a importância do tema e a necessidade emergente de combater a pobreza menstrual.
Por que um documentário?
Decidi apresentar o TCC em formato de documentário, disponível no Youtube, para mostrar de forma mais concreta e visual a problemática da pobreza menstrual, uma vez que é um assunto pouco debatido, apesar da atenção que tem ganhando nos últimos meses. Sem dúvida, o fato de ainda estarmos em uma pandemia dificultou o processo de gravação e edição do projeto, pois limitou os tipos de gravações externas que eu poderia fazer, algo essencial para qualquer projeto audiovisual. Acabei por fazer apenas duas gravações externas.
A primeira, acompanhando o projeto Absorvendo Amor (SP) em uma doação de absorventes no Capão Redondo (SP) junto com a instituição "Capão em Ação". Foi uma doação pequena, mas significativa para o meu projeto, na qual consegui conversar com as representantes e também ouvir relatos de mulheres que sofrem com a falta.
A segunda gravação, ou melhor, as demais gravações foram eu fazendo as passagens, termo que usamos no jornalismo para definir a gravação da reportér explicando uma parte antes de uma imagem ou entrevista. Também foi um momento significativo, por eu conseguir trazer esse tom mais jornalístico e de documentário ao ter minha imagem falando alguns tópicos e por trazer essa dinâmica no vídeo. O restante do documentário foi realizado com imagens e vídeos de outras fontes e entrevistas feitas pela plataforma Zoom.
Intitulei o documentário como "Corpos menstruantes" por ser autoexplicativo, dado que falo sobre os diversos tipos de corpos que menstruam.










Segunda foto da esquerda para direita: mural feito pela artista Priscila Barbosa; terceira foto da esquerda para direita: mural feito por artista não identificad@
Por que um website?
Outro formato que decidi incluir neste projeto foi este website, criado por mim no editor Wix. Utilizei um design pré-existente dentro da plataforma, mas alterei o design conforme a identidade que utilizei no projeto. A ideia é que o website sirva como um facilitador do acesso à informação sobre a pobreza menstrual, além de trazer um lado mais visual para o projeto.
Criei uma aba "Referências" no menu para agrupar meu trabalho de curadoria sobre o tema, trazendo links, vídeos, imagens, artigos, matérias, documentários, e outros, que eu utilizei no desenvolvimento do documentário.
Também criei uma aba "Iniciativas e ONGs" para ser uma curadoria dos projetos pelo Brasil que arrecadam dinheiro para realizar doações de kits de higiene - inclusive, projetos que entrevistei. É claro que não consegui reunir todos os projetos existentes pelo país, mas acredito que consegui divulgar uma boa quantidade, que sem dúvida, levarão muitos a encontrar outros projetos espalhados por aí.
O documentário está disponível, através do link do Youtube, na página inicial deste site. Portanto, o website também acaba servindo como um "host" para o documentário disponível na plataforma.